Santos Manuel, Manuela de Freitas e Mário Viegas,
em ensaios da peça "O Ensaio de um Sonho".
Foto copiada do programa da peça "O Ensaio de um Sonho".
"Os actores são meninos a brincar no jardim
dos deuses, para animarem os homens"
Fernando Amado
Estava ontem
a terminar um post e já a pensar neste, e lembrei-me do Santos Manuel e de um
episódio que revela bem o distraído que era fora dos palcos, e fiquei
pensando se escreveria aqui o que se passou. E, hoje compro o jornal e dou com
a noticia da sua morte. Embora não privasse com o Santos Manuel, achava que era uma pessoa
tímida e discreta (como eu aprecio), e de quem eu gostava muito e sinto bastante a sua
morte, mas fica a memória dos tempos que trabalhamos juntos.
Santos Manuel e Mário Viegas em 1993, na peça "Enquanto
se está à espera de Godot" na Companhia Teatral do Chiado.
Foto encontrada em lauroantonioapresenta.blogspot.pt
A historia foi a seguinte: eu namorava já há uns meses com uma actriz, quando o Santos Manuel virou-se para o Mário Viegas e diz-lhe; «Tenho a impressão que qualquer dia vamos ter um caso do Chico com a “Maria”. E responde o Mário; «Ó Santos, então tu não sabes que eles já vivem juntos.», e ele; «Não tinha dado por nada».
Em Março de
1994, o Mário mandou recado para mim, mais uma vez através da Manuela de
Freitas. O Mário mandou-me chamar e pediu-me para dar um jeito nas luzes (era
para parecer luzes de um ensaio) para a peça “O Ensaio de Um Sonho”, que ele
estava a ensaiar com a Manuela, o Santos Manuel e com os outros actores da
companhia e era a maneira de ele me dizer que queria que eu voltasse a trabalhar
com ele e assim foi, voltei e fiquei com ele até ao fim.
O Ensaio de Um Sonho (1994)
A partir de textos de
de August Strindberg e Ingmar
Bergman
Encenação de Mário Viegas
Manuela de Freitas, Mário Viegas e Santos Manuel,
os actores principais de "O Ensaio de um Sonho".
Foto copiada do programa da peça "O Ensaio de um Sonho".
Capa do programa e ficha técnica e artística.
Critica de Carlos Porto no Jornal de Letras e de Rosário Anselmo na Visão.
Anúncio de sessões de poesia organizadas pelo Mário Viegas.
Manuela de Freitas, Mário Viegas e Santos Manuel,
os actores principais de "O Ensaio de um Sonho".
Foto copiada do programa da peça "O Ensaio de um Sonho".
Capa do programa e ficha técnica e artística.
Critica de Carlos Porto no Jornal de Letras e de Rosário Anselmo na Visão.
Anúncio de sessões de poesia organizadas pelo Mário Viegas.
A Grande Magia
de Eduardo de Filippo (1994)
Encenação de Mário Viegas
Manuela de Freitas e Mário Viegas. 1994.
Manuela Cassola, Rita Lello, Manuela de Freitas e Eduardo Firmo. 1994.
Rita Lello, Manuela de Freitas, Santos Manuel e Mário Viegas. 1994.
Capa do programa e ficha técnica e artística.
A Grande Magia, destaque no jornal Se7e. 1994.
Critica de Carlos Porto no Jornal de Letras e de Rosário Anselmo na Visão.
Mário Viegas e Santos Manuel em A Grande Magia.
Foto copiada da Visão. 1994.
Mário Viegas e Rita Lello, num restaurante perto da Trindade. 1994.
Manuela de Freitas e Mário Viegas. 1994.
Manuela Cassola, Rita Lello, Manuela de Freitas e Eduardo Firmo. 1994.
Rita Lello, Manuela de Freitas, Santos Manuel e Mário Viegas. 1994.
Capa do programa e ficha técnica e artística.
A Grande Magia, destaque no jornal Se7e. 1994.
Critica de Carlos Porto no Jornal de Letras e de Rosário Anselmo na Visão.
Mário Viegas e Santos Manuel em A Grande Magia.
Foto copiada da Visão. 1994.
Mário Viegas e Rita Lello, num restaurante perto da Trindade. 1994.
Desenho de Mário Alberto, feito em 1994, depois de ter ido ver a peça; A Grande Magia. Uns dias depois, ofereceu o desenho ao Mário Viegas, (que por sua vez mo ofereceu) e que um dia irá para o Museu do Teatro.
DEPOIMENTO
DO ACTOR SANTOS MANUEL, ESCRITO PARA O ESPECTÁCULO, “O ENSAIO DE UM SONHO”,
BASEADO EM TEXTOS DE INGMAR BERGMAN E AUGUST STRINDBERG EM MARÇO DE 1994.
Em 1961 entrei para a Casa da Comédia. Lá encontrei o Dr.
Fernando Amado, o meu querido, primeiro e saudoso Mestre. Lá encontrei Manuela de Freitas, Maria do Céu
Guerra, Fernanda Lapa, Zita Duarte, Glória de Matos, Norberto Barroca e tantos
outros. Lá estava o Palco, a Luz, os Actores, a Música, o Silêncio, a Magia, o
Cenário, os Adereços, o "Sonho",
e o meu "Sonho" de ser Cenógrafo. Eu não queria ser Actor.
"Deseja-se
Mulher" de Almada Negreiros, tinha marcado um encontro com o meu destino e
assim me estreei como Actor. Estive
ligado à Casa da Comédia até 1965. No mesmo ano fui para o Teatro Experimental
de Cascais, como Actor. No T.E.C. fui ficando, fui trabalhando, fui criticado,
fui louvado, fui premiado, “e eu não
queria ser Actor”.
Fui curioso demais e
aceitei a experiência como uma forma de realização pessoal, até chegar às
margens da angústia. Continuo insatisfeito. Nunca me consegui libertar do
receio de o meu trabalho ser julgado pelos Outros.
Sei que sou frágil e
não suporto agressões. Vou flutuando na corrente da vida como um aventureiro
receoso, mas determinado.
Às vezes sou derrotado,
outras vezes ferido, mas vou aprendendo.
As minhas experiências ainda não foram fatais.
Vou prosseguindo com os
meus humildes esforços de criação, eles defendem-se
em grande medida daquilo que eu ainda
não sei e daquilo que eu ainda não
fiz.
Aprendi a respirar o pó
dos Palcos com Fernando Amado, Carlos Avilez, Artur Ramos, Hélder Costa. Neste
momento como Encenador e amigo tenho Mário Viegas. Já vencemos uma batalha. “Enquanto
Se Está à Espera de Godot”. Com certeza que ainda vamos vencer outras.
Trabalhar com Manuela de Freitas em “O Ensaio de um
Sonho”, é um grande prazer. Será que ela é um Mal Necessário para o meu aperfeiçoamento e auto-correcção? O tempo
o dirá. Se eu puder penetrar no seu Universo
Interior já me poderei sentir recompensado. Ela é a Actriz.
Talvez um dia eu queira
e deseje ser Actor.
As minhas experiências
não estão cristalizadas.
A Vida, o que tem de
melhor, é o “Sonho” que se altera
constantemente.
Esta é a verdadeira
Liberdade.
Texto transcrito do programa da peça "O Ensaio de um Sonho", 1994.